segunda-feira, 13 de agosto de 2018

JESUS, KARDEC E O ELITISMO


JESUS, KARDEC E O ELITISMO

Dr. Jarbas Leone Varanda
(18.04.1929-15.10.2003)

1) Considerações Preliminares. Do Conceito e Suas Manifestações.

Uma primeira pergunta se nos impõe: O que devemos entender por “elitismo”? E como conseqüência lógica: estaria presente no Espiritismo do ponto de vista ideológico ou prático?

Antes de mais nada, busquemos o seu sentido cultural e sociológico, a fim de que possamos entendê-lo na sua manifestação concreta no movimento espírita.

O termo vem do Francês “Elite”, que significa “escolhido”, “eleito”, derivando daí a expressão “elitismo”, ou seja, a condição ou “modo de ser” que consubstancia IDÉIA, AÇÕES OU ATITUDES daqueles que no Grupo social atingiram um nível mais refinado de cultura, de conhecimento, e que se colocam, consciente ou inconscientemente, como chefes e ditadores de PADRÕES DE COMPORTAMENTO, com base numa certa liderança exercida.

Existem, todavia, dois tipos de elites: as Elites Fechadas e as elites que chamaríamos de Abertas ou Participantes. As primeiras se fundam em pretensos privilégios de classe, não admitindo a penetração de elementos de outras classes, sendo, assim, Herméticas ou Desligadas do Povo, da massa. As segundas, são as que se concebem em função do Povo, da massa, por isso mesmo abertas, vivendo como elementos Catalisadores do Progresso das sociedades em geral impondo-se apenas pela sua autoridade espiritual, moral.

2) Do Elitismo na Área Religiosa.

Do ponto-de-vista religioso, as primeiras estão ligadas às Religiões Formalistas, Igrejistas ou “Organizadas”, de subordinação hierárquica, de controladores e sumos pontífices. As segundas estão ligadas aos Padrões Liberais do Cristianismo Primitivo, hoje revivido pelo Espiritismo em sua feição evangélica.

As primeiras estariam ligadas aquilo que Humberto Rhoden denominou de princípio “Sacerdotal-Ritual”, pelo qual as criaturas humanas somente poderiam conseguir a sua salvação (ou evolução) através da Intermediação de coisas (Bíblia) ou pessoas (sacerdócio organizado) com suas exigências ritualísticas. As segundas estariam vinculadas ao princípio “Profético Espiritual”, pelo qual as criaturas humanas se salvam (ou promovem a sua salvação) por si mesmas (auto-aperfeiçoamento), sem intermediação de coisas ou seres humanos, através da mudança de comportamento moral e da prática das boas obras.

3) Do Elitismo na Dimensão Espírita.

Feitas essas considerações, cabe-nos indagar: depois de tantos séculos de domínio das “Religiões formalistas” ou “organizadas”, em que o Elitismo foi a sua tônica, carreando todos os males inerentes para a Humanidade, estaria o Espiritismo sujeito aos mesmos enganos lamentáveis, ele que pretende ser o Cristianismo Redivivo em suas feições teórica e prática, que é a mais perfeita manifestação do principio profético-espiritual na atualidade?

É claro que, como IDEAL nunca, na feliz expressão de Richard Simonetti, na sua obra “Para Viver a Grande Mensagem”, mas como a concretização desse ideal está sujeito à ação de seus adeptos, claro se torna a sua possibilidade, embora sejam poucas as probabilidades, e isto em razão das nossas experiências vinculadas aos padrões vividos pelos sacerdotes políticos de todos os tempos, após a oficialização do Cristianismo pôr Constantino.

Daí, podermos caracterizar o Elitismo no meio Espírita como sendo aquela tendência para as “práticas formalistas”, para a organização igrejista, para a institucionalização de comandos, de verdadeiras castas intelectuais, hierárquicas e burocráticas, ditando normas rígidas e padrões exteriores de comportamento dos Espíritas e suas práticas, distanciando-se do povo, e esquecendo os ensinos e as práticas de JESUS.

Daí o presente trabalho que objetiva dimensionar o Elitismo no movimento Espírita e procurar diagnosticar as suas Causas possíveis, apontando as soluções terapêuticas para erradicá-lo de nosso meio, seja como tendências perniciosas, seja como realidade concreta decorrente, ambas, de nossas experiências junto ao sacerdócio organizado em passadas existências!...

4) Do Elitismo e Suas Formas.

Dessa forma, mister se torna precisar as formas ou instrumentos de que se vale a prática elitista para combatê-la em seus redutos, ainda como meras possibilidades.

É assim que apontaríamos as seguintes formas instrumentárias:

A - Da Institucionalização ou Oficialização do Movimento Espírita

O que poderíamos entender por “institucionalização” ou “oficialização” do Espiritismo?

Para nós isto se dá quando os dirigentes de órgãos unificadores, ou mesmo Instituições isoladamente consideradas, se colocam como verdadeiros “chefes” ou “intermediários indispensáveis ou insubstituíveis” ao progresso de seus filiados, através de chefias, privilégios ou formalismos próprios das Religiões Formalistas e Organizadas hierarquicamente.

Mas, embora sejam poucas as probabilidades, está o movimento sujeito a esse perigo, através da Adoção de certas formas de conduta por parte de alguns dirigentes, muitas vezes sutis e que aos poucos vão penetrando o movimento doutrinário como ervas daninhas para se implantar definitivamente com reais malefícios.

Se não, vejamos:

Em primeiro lugar surge o problema da possibilidade de formação de verdadeiras castas, não no sentido tradicional do termo, mas de existência de categorias de representantes de entidades espíritas com características de comando religioso, assumindo, assim, a condição de verdadeiros intermediários entre Deus e a criatura humana.

Na verdade, podem surgir, aqui e ali, companheiros nossos se transformando em “Chefes”, mantendo-se na direção das organizações individuais ou coletivas a qualquer custo e por qualquer preço, como se fossem “Eleitos”, “escolhidos”, pelos Espíritos para exercer uma falsa liderança, assumindo, assim, a condição de “missionários” com discriminações em torno de suas atitudes para com os outros confrades e instituições.

Em segundo lugar, existe a possibilidade de formação do “Espírito de Cúpula” nas Organizações Federativas, evocando a infalibilidade em torno de suas decisões, seja através das chamadas Normas básicas ou Resoluções, impostas de cima para baixo, sem ouvir as bases que são os Centros Espíritas, exigindo dos companheiros em dificuldades materiais ou espirituais uma elevação ou crescimento, sem apoio dos que foram justamente chamados a ampará-los fraternalmente.

Em terceiro lugar, é a possibilidade do aparecimento de discriminações por parte de Entidades Espíritas (Centros ou Instituições outras), principalmente organizações federativas, no sentido de estabelecer distinções, com base em pretensa pureza doutrinária, relativamente às formas de administração e de realização prática da Doutrina Espírita, portas a dentro de nosso movimento, ou mesmo em relação a crenças afins (cujos integrantes estão se esforçando para levar adiante o seu ideal espiritualista) agindo, assim, como se fossem “seres superiores” ou donos da verdade !

Tais “discriminações” significam que somente tais organizações ou os que as dirigem são os VERDADEIROS INTERPRETES do pensamento dos Espíritos e que se as demais instituições não andarem pelos seus padrões formais de idéias e ações, não podem ser considerados como fazendo parte integrante da grande família Espírita que um dia há de formar toda a humanidade. Significa, enfim, que somente aquelas entidades estão certas e as demais erradas em suas idéias e práticas espiritistas, baseados em pretensa pureza doutrinária.

Em quarto lugar, é a possibilidade de doação de Cursos, em seus diversos aspectos, como condição básica para o trabalho e a prática doutrinária (seja no campo da divulgação, seja no campo mediúnico), estabelecendo GRAUS de aprendizado, esquecendo-se de que todos somos aprendizes na Escola Evangélica dos ensinos de Jesus à luz do Espiritismo, e que se tornam desnecessárias quaisquer Formalismos Oficializados para o processo do aprendizado referido.

B- A Burocratização e o Formalismo

São também duas formas de Elitismo que podem se manifestar em nossas organizações (Centros e Instituições outras), principalmente na área dos órgãos unificadores e a serviço daqueles que estão na direção e em detrimento da Natureza simples e Informal do Espiritismo que revive o Cristianismo em sua pureza e simplicidade.

Por burocracia entendemos todos como sendo o “poder exercido pelas complexas organizações administrativas modernas, através da classe que esta na direção e que se torna uma forma de emperramento dos trabalhos na administração pública ou privada, pela excessiva centralização e indébita ingerência ou interferência desses elementos na atuação dos indivíduos e sociedades vinculadas à máquina administrativa, com Exigências descabidas, desnecessárias e sem importância, tornando-se a direção cada vez mais alta e distanciada do povo”.

Na área Espírita, a burocratizarão estaria presente na ação daquelas entidades, através de dirigentes com tendências à Chefia Autocrática, exigindo a observância de regras estatutárias, esquecendo-se de que o Estatuto de uma associação espírita existe apenas para dar satisfação à Lei humana e que, o que interessa realmente, é o TRABALHO, a tarefa a ser feita com vistas à mais perfeita realização do Espiritismo em sua feição evangélica. Seria ainda a adoção, por parte de certos dirigentes espíritas, em seus estatutos, da exigência de condições materiais, formais como, por exemplo, o pagamento de mensalidades ou anuidades para que os sócios ou membros do Grupo possam exercer o direito de voto, quando as únicas condições seriam de ordem espiritual, ou sejam: a qualidade de espírita e sua participação na vida do Grupo, através da colaboração de qualquer natureza.

Também poderia estar presente na ação daqueles dirigentes de Organizações Federativas com tendências autocráticas, agora com interferências ou ingerências descabidas em nossas instituições adesas, através de exigências formais de filiação e subordinação às suas resoluções hierárquicas, esquecendo-se do verdadeiro significado do Movimento de Unificação dos Espíritas (e não do Espiritismo que se apresenta já unificado em suas bases doutrinárias); a colaboração real a ajuda despersonalizada às instituições adesas, o apoio e incentivo à realização das tarefas espiritistas nas respectivas instituições ou Centros de difusão da Doutrina Espírita, bem como a realização de trabalhos de equipe como forma de compreensão e aproximação da família espírita brasileira, aceitos espontaneamente em assembléias fraternas, onde a tônica seja a Liberdade de participação de seus membros e a União em torno da idéia Espírita!

Com a criação dessas entidades federativas, sem a verdadeira compreensão de suas reais finalidades, corre-se o risco da Institucionalização burocrática, Igrejista do Espiritismo, repetindo os erros das Religiões tradicionais, com as exigências formais de Filiação obrigatória das Instituições Espíritas em seus órgãos, com a observância da hierarquia, através de resoluções locais, estaduais e nacionais, em detrimento do espírito de Liberdade de ação e da legítima fraternidade de seus membros, sob a alegação de que, estando aumentando o número de adeptos da Doutrina Espírita, há necessidade da unificação, com vistas à defesa de seus princípios doutrinários, substituindo, assim, o fraternal e autêntico calor das relações humanas, pelo papel dos representantes, esquecendo-se de que o Espiritismo não é obra de encarnados e sim dos Espíritos.

E pensamos assim porque não podemos admitir a introdução de modificações em nossas práticas espiritistas que retirem a liberdade do Espírita de trabalhar, de opinar, porque é livre para fazer o que quer e dizer o que pensa, não aceitando palavras definitivas em nenhum assunto, mas procurando observar o ensino dos nossos benfeitores Espirituais quando nos lembram que a Doutrina Espírita é o nosso maior órgão orientador!...

Vale lembrar a palavra de Erik Froom : “Nisso consiste precisamente a tragédia de todas as religiões ; violam e pervertem o princípio de Liberdade logo que se transformam em organizações dirigidas por uma Burocracia religiosa. A máquina religiosa e os homens que a representam tornam-se substitutos da família, da tribo, do estado e não se cultua mais a Deus, mas ao grupo que fala em nome...”. (Psicanálise e Religião).

E o Formalismo, ou seja a adoção de práticas ou fórmulas consideradas indispensáveis à manifestação da substância doutrinária de uma filosofia de vida?

Ainda aqui, e apesar de serem menores as probabilidades de sua ação perniciosa, o perigo pode surgir, sob formas sutis de manifestações.

Seria a introdução em nossas reuniões de estudo, de difusão ou mesmo mediúnicas, de certas práticas formais sem as quais não teríamos a sua realização, práticas essas “recomendadas” por Seres encarnados ou Órgãos federativos, sob a alegação de defenderem a pureza doutrinária.

De escantilhão, lembraríamos a área de Evangelização da criança, que as probabilidades de sua manifestação seriam maiores, quando os orientadores de infância procuram se apegar aos processos pedagógicos sofisticados, às técnicas e recursos didáticos, mas sem qualquer vibração de Carinho, de Amor, de Compreensão, de Ajuda, de Esclarecimento espiritual e moral para com as crianças !...

Poderia parecer que estejamos nos posicionando contrariamente à adoção das técnicas e recursos pedagógicos em nossas aulas de evangelização da criança ou mesmo em qualquer setor de estudo e difusão da Doutrina. Nada disso. O que queremos dizer é que se deve buscar o aperfeiçoamento de nossos meios de comunicação de idéias, sem dar aos métodos e recursos o papel principal, pois o que predominantemente se deve objetivar é atingir o Coração das criaturas humanas com os recursos do sentimento.

C- Do Autoritarismo no comportamento dos Dirigentes Espíritas.

Sem dúvida alguma, a atitude autoritária, em matéria de religião, é uma das formas de que se pode revestir o Elitismo no meio Espírita, a exemplo do que aconteceu nas religiões tradicionais, pois leva o homem a abdicar de sua razão, de sua liberdade e amor para ser guiado pelo “Chefe”, em nome de uma Falsa Liderança.

Essa atitude autoritária, de mandonismo pode ocorrer em nossa seara quando os dirigentes, com tendências inatas pelo Desejo de Poder, com exagerada supervalorizacão de si mesmos (orgulho) e de suas realizações, e incapacidade de dialogar democraticamente com o povo e, ainda, na maioria das vezes, com visível obsessão, utilizam o conceito de missão para se considerarem “Designados” pelo Alto, com autoridade para decidir sobre qualquer assunto tornando-se “ditadores” nas instituições que dirigem, ditando normas rigoristas e padrões exteriores de comportamento dos seus liderados.

Nesse caso, os ideais que estão na base de suas Instituições, passam a ser fins em si mesmos e não meios para a felicidade pessoal, tornando-se os seus dirigentes manipuladores dos seus semelhantes que aceitam as “orientações” pelo fato da liderança formal.

Daí o rigorismo e a imposição de ideias, diretrizes por parte desses dirigentes, esquecendo-se de que os verdadeiros missionários, a exemplo de nosso querido Chico Xavier, não se arvoram em chefes, ficando apenas no terreno das “orientações espirituais” (como médium que é) ou das sugestões de trabalho ou estímulo aos confrades que o procuram, impondo-se exclusivamente pela sua condição moral, espiritual.

Na verdade, é a substituição da crença no valor do estudo, do diálogo e das decisões em assembléias fraternas, em que a participação democrática dever ser a tônica, a partir das bases, pela decisão dos representantes sem conhecimento e vivência dos problemas; é a substituição do critério de valorização em razão do trabalho que está sendo realizado pelos aptos espiritualmente a exercê-lo pelo respeito ao indivíduo em razão do lugar que ocupa na sociedade, sem indagar de sua capacidade e condições espirituais, esquecendo-se de como trabalhavam os apóstolos nas assembléias e comunidades cristãs dos primeiros tempos do Cristianismo.

CONCLUSÕES PARCIAIS

5- A Terapêutica ou as Formas de Combate ao Elitismo no Meio Espírita.

Mas, como toda crítica construtiva não pode existir sem uma solução preventiva e terapêutica satisfatórias, temos que responder à questão: como evitar que o Espiritismo seja deturpado, como o foi o Cristianismo primitivo, pelos sacerdotes políticos de todos os tempos?

Parece-nos que a única solução satisfatória é o Estudo detalhado desses perigos e a aplicação de antídotos de esclarecimento fraterno e corajoso, da educação em todos os níveis e, sobretudo da atitude de Amor e Tolerância no combate às hipocrisias e violências doutrinárias, exemplificando o trabalho, a fidelidade à Doutrina Espírita, considerando-a como o único órgão orientador!

Com base nessa assertiva, poderíamos apenas recordar alguns aspectos para a meditação e o estudo daqueles que se preocupam com a matéria.

Dessa forma:

A- É necessário que nos conscientizemos de que, se o Cristianismo primitivo trazia ao homem a grande mensagem do Cristo, isto é, Liberdade e Amor, Educação e Paz será preponderante pelas modificações que trará às idéias, às opiniões, aos caracteres, aos costumes e às relações sociais, conforme nos diz Kardec em “A Gênese”. E maior será essa influência pela circunstância de não ser imposta.

B- Que o Espiritismo é Libertação Espiritual e um gigantesco esforço para a Educação do Mundo. Não é o único esforço e muito menos o que está melhor organizado, mas é, pelas suas características, o mais apto para secundar o movimento de regeneração social, por isso é seu contemporâneo.

C- Que o Espiritismo veio para as massas e com ela dialogar, a exemplo de Jesus, cuja maior paixão era o Povo, “convivendo com ele, sentindo-lhe as dores e servindo-o sem interesses secundários, conforme o amai-vos uns aos outros, a senda maior de nossa emancipação” (mensagem “Paixão de Jesus”, de E. Quadros, em “O Espírito da Verdade” (Feb), obra psicografada por Chico Xavier e Waldo Vieira).

D- Que devemos levar a Doutrina Espírita junto à toda comunidade, através do respeito a todas as criaturas, apreço às autoridades, devotamento ao bem comum e instrução do povo, em todas as direções sobre as verdades do Espírito, imutáveis, eternas (Bezerra de Menezes, em Unificação - Serviço Urgente mas não apressado). Nesse sentido, ressaltaria muito bem Salvador Gentile, em Anuário Espírita de 1.977:

“Por mais respeitáveis os títulos acadêmicos que detenhamos, não hesitemos em nos confundir na multidão para aprender a viver, com ela, a grande mensagem!”. (Opus Cit.).

E- Que devemos amar a todos os companheiros, principalmente os mais humildes social e intelectualmente, falando com eles e deles nos aproximando com real espírito de Compreensão e Fraternidade, sem nos colocarmos em pretensas posições de superioridade, privilégios e personalismos deprimentes.

F- Que os mais sábios sejam apoio e amparo aos menos esclarecidos ou em dificuldades materiais ou espirituais, sem exigências de elevação e crescimento.

G- Que o Espiritismo evangélico é respeitar e auxiliar, amparar e elevar sempre. Chico Xavier em entrevista ao Triângulo Espírita, repelindo toda tentativa de oficialização do movimento espírita, a exemplo do que fizeram as autoridades eclesiásticas, conforme nos ensina Emmanuel em “A Caminho da Luz” (Feb):

“As autoridades eclesiásticas compreendem que é preciso fanatizar o povo, impondo-lhes suas idéias e concepções e, longe de educar a alma das massas, na sublime lição do Nazareno, entram em acordo com a preferência pelas solenidades exteriores, pelo culto fácil do mundo externo, tão a gosto dos antigos romanos pouco inclinados às indagações transcendentes”. (Opus Cit.).

H- Que não temos o direito de deturpar a mensagem dos Espíritos como aconteceu com o Cristianismo, criando uma “classe de privilegiados”, pretensos representantes de Deus na Terra, pois a Doutrina Espírita não é obra de encarnados, mas dos Espíritos, com o objetivo de restaurar os ensinos de Jesus!

I- Que a Religião Espírita não pode admitir em seu seio qualquer tentativa de Igrejismo, de subordinação a quem quer que seja, ou alguma coisa que lembre Castas, Chefias, Privilégios ou Prioridades e Formalismos, como nos lembra Dr. Bezerra de Menezes em sua mensagem citada acima, próprios de Religiões organizadas ou formalistas, e onde o Elitismo passa a ser a tônica, buscando, isto sim, os Espíritas-Cristãos a corporificar em seu movimento a aspirada “Assembléia do Cristo” enunciada por Paulo de Tarso. É por isso que encontramos nos agrupamentos espiritistas, ombreando lado a lado, os que alcançaram até os mais altos graus de conhecimentos humanos , com aqueles outros, verdadeiros caboclos, homens simples do povo, falando a “língua dos anjos”, isto é, fazendo as mais lindas exposições evangélicas sem qualquer conhecimento de gramática e demonstrando que o IDE E PREGAI não é privilégio de ninguém e que aqueles que possuem maior soma de conhecimento têm a obrigação de ajudar aos mais ignorantes, aos marginalizados da Cultura Acadêmica. Aliás, somente nesse sentido poderíamos admitir no seio da Doutrina Espírita uma espécie de Elite Participante. Aquela aristocracia intelecto-moral de que falava Allan Kardec e de que deve estar ligada à promoção do Povo como elemento catalisador, sem qualquer sentido elitista, de classe hermética ou privilegiada, com “espírito de cúpula”, conforme nos diz Chico Xavier, interpretando o pensamento dos Espíritos, em sua entrevista dada ao Triângulo Espírita e reproduzida no livro “Encontros no Tempo”.

6- O Elitismo e a Doutrina de Jesus.

Com essas considerações precedentes, acreditamos ter contribuído de alguma forma, para o estudo da matéria enfocada com vistas à adoção de formas instrumentais de combate ao elitismo no Movimento Espírita, embora saibamos serem poucas as probabilidades de sua manifestação em nossa seara.

Parece-nos, todavia, que não existe maior Antídoto para evitar qualquer tentativa elitista em nosso movimento religioso do que recordar o Mestre Jesus, pois a Liberdade e o Amor são a essência de seus ensinos.

Na verdade, o que Cristo, a todo custo tenta despertar, reviver e garantir é a Liberdade do coração humano, contra as ameaças e a falsa doutrina dos seus pretensos líderes religiosos. E por isso mesmo, Ele denuncia os fariseus, os sacerdotes políticos quanto às suas hipocrisias, seu orgulho, sua auto-suficiência, sua falsidade, tanto nas relações com Deus como no tratamento do próximo, chamando-os de “arca de víboras”!

Sua mensagem ataca as atitudes de fechamento e de insensibilidade que caracterizam os líderes de seu tempo, e demonstra com os seus ensinos e práticas que a Boa Nova se opõe a toda rigidez, a todo fechamento ao próximo, a toda atitude mesquinha que leva a afogar o essencial no mar do acessório. É assim que, frente às divisões entre Bons e Maus, que são frutos do egoísmo, Ele se mostra Livre, declarando que os critérios da divisão são interiores e não dados por preconceitos. “Não é o que entra pela boca que mancha o homem, mas o que sai de seu coração”. Por isso, come com os pecadores, atende aos pagãos, dialoga com as prostitutas, os publicanos, etc., dizendo claramente aos fariseus: “as meretrizes e os publicanos vos precederão no Reino de Deus”.

Diante da observância rígida da lei do Sábado, Jesus declara que o Sábado é feito para o homem e não o homem para o Sábado (Mc. 2.27). Ele cura no Sábado (Lc. 6.6.10), manda carregar a cama do paralítico curado (Jo. 5,8,10).

Com relação ao Jejum, à esmola, à oração, Jesus sugere critérios interiores para determinar o valor das atitudes evangélicas. Critica as orações quando feitas para se exibir, as esmolas quando não parte da verdadeira caridade, o Jejum que não diz respeito ao aspecto espiritual.

Ante o Culto e o Templo, Jesus coloca em questão todo o sistema montado pelos saduceus, relativamente à crença na presença de Javé no lugar considerado sagrado, e autoridade dos sacerdotes que oferecem sacrifícios, mas desprezam os mandamentos divinos, oprimindo o povo simples e pobre e dele se distanciando com idéias e atos preconceituosos: “Eu quero misericórdia e não sacrifício”. No diálogo com a Samaritana, sobre o lugar de se adorar a Deus (Jerusalém ou Garazim) Jesus proclama a “adoração interior”. “Em verdade vos digo que Deus é Espírito e somente em Espírito pode ser adorado no templo do coração”!

Sobre o culto que era todo exterior, Jesus denuncia: “Hipócritas, bem profetizou de vós o Profeta Isaías: este povo me honra com os lábios, mas seu coração esta longe de mim. Em vão se prestam cultos, ensinando doutrinas que são preceitos humanos.” (Mt. 15.8.10).

Perante a distinção entre santo e pecador, Jesus vai dar preferência ao pecador, em clara demonstração que não existe um estatuto para se diferenciar as pessoas nessas duas categorias, antepondo o publicano ao Fariseu (Lc. 18.9-14), louvando a fé da mulher síro-fenícia (Mt. 15.21.28) e na parábola do filho pródigo justifica este em lugar do irmão que se considera justo, recordando o ensino do Profeta Ezequiel: “Deus não quer a morte do ímpio, mas que ele se converta e viva!”

Conclamou-nos Jesus à busca do Reino de Deus, dizendo: “buscai o Reino de Deus e sua Justiça e o resto vos será dado por acréscimo”, afirmando todavia que ele não vem com aparências externas mas que se encontra dentro de nós, no templo do coração e que para alcança-lo há necessidade de nascer de novo (reencarnação) acompanhada de seu fruto: a prática das boas obras, consubstanciada na observância do Amor, presente nas Bem-aventuranças!...

O Espírito Pascal, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, teve oportunidade de asseverar: “O Cristo nunca se esquivava; aqueles que o procuravam, fossem quem fossem, não eram repudiados. A mulher adúltera, o criminoso, eram socorridos por ele, que jamais temeu prejudicar a sua própria reputação”.

Jesus coloca no centro de sua mensagem o Amor como condição da evolução da criatura humana, nada adiantando as práticas exteriores: “Este é o meu mandamento, que vos amem uns aos outros como eu vos tenho amado. Nisto conhecereis que sois meus discípulos”. (Jo. 15.12). E assenta a Lei Áurea no Princípio da Paternidade Universal que proclama o Deus único, transcendente e imanente, e todas as criaturas como seus filhos e, consequentemente, como sendo todos irmãos, e revelando, ainda, a sua visão cósmica ao afirmar que “Na casa do Pai há muitas moradas”. ( Pluralidade dos Mundos Habitados).

Finalmente, o Cristo que é modelo de Perfeição na Terra, exemplificou todos os seus ensinos evangélicos com total abnegação: “missionário do Amor, amou até dar o sangue e a própria vida” (Fénelon, em sua mensagem ‘O Ódio’, constante de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”).

Em síntese, os ensinos de Jesus evidenciam: a nenhuma vinculação a práticas exteriores; a nenhum ritualismo, a nenhuma organização autocrática, enfim, a qualquer forma de violência em termos de imposição de ideias, de atitudes ou condenação, pelo contrário, somente pregou a Liberdade do coração humano, o Amor e o Perdão.

Ainda assim, sua mensagem reflete a sua vida, onde procura “Abrir-se” ao próximo combatendo incessantemente qualquer atitude que pudesse implicar em afastamento do Povo, em qualquer violência espiritual.

Aliás, já dizia Herculano Pires, em “O Espírito e o Tempo”: “Sua palavra mansa e generosa, reunia todos os infortunados e todos os pecadores. Escolheu os ambientes mais pobres e mais desataviados para viver a intensidade de suas lições sublimes, mostrando aos homens que a verdade dispensava o cenário feito dos areópagos, dos fóruns e dos templos, para fazer-se ouvir na sua misteriosa beleza. Suas pregações nas praças públicas verificam-se a propósito dos seres mais desprotegidos e desclassificados, como a demonstrar que a sua palavra vinha reunir todas as criaturas na mesma vibração de fraternidade e na mesma estrada luminosa do Amor. Combateu pacificamente todas as violências oficiais do Judaísmo, renovando a Lei Antiga, com a Doutrina do Esclarecimento, da tolerância e do perdão. Espalhou as mais claras visões da vida imortal, ensinando às criaturas humanas que existe algo superior às pátrias, às bandeiras, ao sangue e às leis.”

Em síntese, além de ensinar e garantir a liberdade do coração humano contra toda e qualquer violência espiritual e de sua nenhuma vinculação a quaisquer práticas elitistas, a lei Áurea do Amor como condição de evolução, ensinaria igualmente como o Cristão deve proceder em relação aos outros e à toda humanidade proclamando : “o que entre vós é maior seja como o menor; e aquele que manda, seja como o que serve” (Lucas, 22-26). Em outras palavras, “se alguém quer ser o primeiro, será o último de todos, o servo de todos” (Mc. 9-35). Jesus ensinou que não veio para ser servido, mas para servir : “Se eu pois, sendo Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros”. (Jo. 13.14).

Nós não poderíamos encerrar este opúsculo sem deixar de registrar a grande recomendação de Jesus aos seus discípulos:

“Os meus discípulos serão conhecidos por muito se amarem”.

Acreditando nós, com a publicação do presente trabalho, ter colaborado para o estudo e a pesquisa da matéria focalizada, ensejando, assim, novas contribuições críticas em torno do Elitismo, uma real violência contra o espírito de Liberdade que foi apanágio do Cristianismo e que não pode acontecer no Espiritismo que o revive em espírito e verdade!...

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POSTADO POR:
Fernando Rosemberg Patrocínio:
Fundador de Casa Espírita Cristã, Articulista, Coordenador de Estudos Doutrinários, Palestrante e Escritor com dezenas de e.Books gratuitos instalados em seu blog abaixo transcrito.
E-mail: f.rosemberg.p@gmail.com

Relação dos e.Books de:
Fernando Rosemberg Patrocínio

01-Ciência Espírita: Tese Informal;
02-Espiritismo Em Evolução;
03-Espiritismo e Matemática;
04-Mecanismo Ontogenético;
05-Espaço-Tempo: Física Transcendental;
06-Corrente Mental;
07-Pietro Ubaldi e Chico Xavier;
08-Filosofia da Verdade;
09-Axiologia do Evangelho;
10-Espiritismo e Evolucionismo;
11-Fatos e Objeções;
12-O Médium de Deus;
13-A Grande Síntese e Mecanismo;
14-Evangelho da Ciência;
15-Codificação Espírita: Reformulação;
16-Kardecismo e Espiritismo;
17-Geometria e Álgebra Palingenésicas (web artigos);
18-Maiêutica do Século XXI;
19-Espiritismo: Fundamentações;
20-Ciência de Tudo: Big-Bang;
21-Evolução: Jornadas do Espírito;
22-O Homem Integral (Reflexões);
23-Espiritismo e Filosofia;
24-André Luiz e Sua-Voz;
25-O Livro dos Espíritos: Queda Espiritual;
26-Evidências do Espírito;
27-Construção Bio-Transmutável;
28-Mediunidade Genial (web artigos);
29-Conhecimento e Espiritismo;
30-O Paradigma Absoluto;
31-O Fenômeno Existencial;
32-Chico-Kardec: Franca Teorização;
33-O Maior dos Brasileiros;
34-Espiritismo: Síntese Filosófica;
35-O Livro dos Espíritos: Simples e Complexo;
36-O Livro dos Espíritos: Níveis Filosóficos;
37-Espiritismo: Queda e Salvação;
38-Geometria Cósmica do Espiritismo;
39-Matemática da Reencarnação;
40-Kardec, Roustaing e Pietro Ubaldi;
41-Espiritismo e Livre Pensamento;
42-Síntese Embriológica do Homem;
43-Jean-Baptiste Roustaing: Réplica Primeira;
44-Jean-Baptiste Roustaing: Réplica Segunda;
45-Jean-Baptiste Roustaing: Réplica Terceira;
46-Consenso Universal: Tríplice Aspecto;
47-Método Pedagógico dos Evangelhos;
48-Cristo: de Roustaing a Pietro Ubaldi;
49-Estratégias da Revelação Espírita;
50-Trilogia Codificada e Rustenismo;
51-Cosmogênese do Terceiro Milênio;
52-Tertúlias Multidimensionais;
53-Cristianismo: Teologia Cíclica;
54-Análise de Temas Codificados;
55-Deus: Espírito e Matéria;
56-Razões e Funções da Dor;
57-Emmanuel: Insigne Revelador;
58-A Queda dos Anjos;
59-Homem: Vença-te a Ti Mesmo;
60-Evangelho: Evolução Salvífica;
61-O Espírito da Verdade;
62-Balizas do Terceiro Milênio;
63-Sentimento: Molde Vibrátil de Ideias;
64-Ciência do Século XX;

65-A Revolução Ética.
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Blog: Filosofia do Infinito
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