JESUS, KARDEC E O ELITISMO
Dr. Jarbas Leone Varanda
(18.04.1929-15.10.2003)
1) Considerações
Preliminares. Do Conceito e Suas Manifestações.
Uma primeira pergunta se nos
impõe: O que devemos entender por “elitismo”? E como conseqüência lógica:
estaria presente no Espiritismo do ponto de vista ideológico ou prático?
Antes de mais nada,
busquemos o seu sentido cultural e sociológico, a fim de que possamos
entendê-lo na sua manifestação concreta no movimento espírita.
O termo vem do Francês
“Elite”, que significa “escolhido”, “eleito”, derivando daí a expressão
“elitismo”, ou seja, a condição ou “modo de ser” que consubstancia IDÉIA, AÇÕES
OU ATITUDES daqueles que no Grupo social atingiram um nível mais refinado de
cultura, de conhecimento, e que se colocam, consciente ou inconscientemente,
como chefes e ditadores de PADRÕES DE COMPORTAMENTO, com base numa certa
liderança exercida.
Existem, todavia, dois tipos
de elites: as Elites Fechadas e as elites que chamaríamos de Abertas ou Participantes.
As primeiras se fundam em pretensos privilégios de classe, não admitindo a
penetração de elementos de outras classes, sendo, assim, Herméticas ou Desligadas
do Povo, da massa. As segundas, são as que se concebem em função do Povo, da
massa, por isso mesmo abertas, vivendo como elementos Catalisadores do
Progresso das sociedades em geral impondo-se apenas pela sua autoridade
espiritual, moral.
2) Do Elitismo na Área
Religiosa.
Do ponto-de-vista religioso,
as primeiras estão ligadas às Religiões Formalistas, Igrejistas ou
“Organizadas”, de subordinação hierárquica, de controladores e sumos
pontífices. As segundas estão ligadas aos Padrões Liberais do Cristianismo
Primitivo, hoje revivido pelo Espiritismo em sua feição evangélica.
As primeiras estariam
ligadas aquilo que Humberto Rhoden denominou de princípio “Sacerdotal-Ritual”,
pelo qual as criaturas humanas somente poderiam conseguir a sua salvação (ou
evolução) através da Intermediação de coisas (Bíblia) ou pessoas (sacerdócio
organizado) com suas exigências ritualísticas. As segundas estariam vinculadas
ao princípio “Profético Espiritual”, pelo qual as criaturas humanas se salvam
(ou promovem a sua salvação) por si mesmas (auto-aperfeiçoamento), sem
intermediação de coisas ou seres humanos, através da mudança de comportamento
moral e da prática das boas obras.
3) Do Elitismo na Dimensão
Espírita.
Feitas essas considerações,
cabe-nos indagar: depois de tantos séculos de domínio das “Religiões
formalistas” ou “organizadas”, em que o Elitismo foi a sua tônica, carreando
todos os males inerentes para a Humanidade, estaria o Espiritismo sujeito aos
mesmos enganos lamentáveis, ele que pretende ser o Cristianismo Redivivo em
suas feições teórica e prática, que é a mais perfeita manifestação do principio
profético-espiritual na atualidade?
É claro que, como IDEAL
nunca, na feliz expressão de Richard Simonetti, na sua obra “Para Viver a
Grande Mensagem”, mas como a concretização desse ideal está sujeito à ação de
seus adeptos, claro se torna a sua possibilidade, embora sejam poucas as
probabilidades, e isto em razão das nossas experiências vinculadas aos padrões
vividos pelos sacerdotes políticos de todos os tempos, após a oficialização do
Cristianismo pôr Constantino.
Daí, podermos caracterizar o
Elitismo no meio Espírita como sendo aquela tendência para as “práticas
formalistas”, para a organização igrejista, para a institucionalização de
comandos, de verdadeiras castas intelectuais, hierárquicas e burocráticas,
ditando normas rígidas e padrões exteriores de comportamento dos Espíritas e
suas práticas, distanciando-se do povo, e esquecendo os ensinos e as práticas
de JESUS.
Daí o presente trabalho que
objetiva dimensionar o Elitismo no movimento Espírita e procurar diagnosticar
as suas Causas possíveis, apontando as soluções terapêuticas para erradicá-lo
de nosso meio, seja como tendências perniciosas, seja como realidade concreta
decorrente, ambas, de nossas experiências junto ao sacerdócio organizado em
passadas existências!...
4) Do Elitismo e Suas
Formas.
Dessa forma, mister se torna
precisar as formas ou instrumentos de que se vale a prática elitista para
combatê-la em seus redutos, ainda como meras possibilidades.
É assim que apontaríamos as
seguintes formas instrumentárias:
A - Da Institucionalização
ou Oficialização do Movimento Espírita
O que poderíamos entender
por “institucionalização” ou “oficialização” do Espiritismo?
Para nós isto se dá quando
os dirigentes de órgãos unificadores, ou mesmo Instituições isoladamente
consideradas, se colocam como verdadeiros “chefes” ou “intermediários
indispensáveis ou insubstituíveis” ao progresso de seus filiados, através de
chefias, privilégios ou formalismos próprios das Religiões Formalistas e
Organizadas hierarquicamente.
Mas, embora sejam poucas as
probabilidades, está o movimento sujeito a esse perigo, através da Adoção de
certas formas de conduta por parte de alguns dirigentes, muitas vezes sutis e
que aos poucos vão penetrando o movimento doutrinário como ervas daninhas para
se implantar definitivamente com reais malefícios.
Se não, vejamos:
Em primeiro lugar surge o
problema da possibilidade de formação de verdadeiras castas, não no sentido
tradicional do termo, mas de existência de categorias de representantes de
entidades espíritas com características de comando religioso, assumindo, assim,
a condição de verdadeiros intermediários entre Deus e a criatura humana.
Na verdade, podem surgir,
aqui e ali, companheiros nossos se transformando em “Chefes”, mantendo-se na
direção das organizações individuais ou coletivas a qualquer custo e por
qualquer preço, como se fossem “Eleitos”, “escolhidos”, pelos Espíritos para
exercer uma falsa liderança, assumindo, assim, a condição de “missionários” com
discriminações em torno de suas atitudes para com os outros confrades e instituições.
Em segundo lugar, existe a
possibilidade de formação do “Espírito de Cúpula” nas Organizações Federativas,
evocando a infalibilidade em torno de suas decisões, seja através das chamadas
Normas básicas ou Resoluções, impostas de cima para baixo, sem ouvir as bases
que são os Centros Espíritas, exigindo dos companheiros em dificuldades
materiais ou espirituais uma elevação ou crescimento, sem apoio dos que foram
justamente chamados a ampará-los fraternalmente.
Em terceiro lugar, é a
possibilidade do aparecimento de discriminações por parte de Entidades
Espíritas (Centros ou Instituições outras), principalmente organizações
federativas, no sentido de estabelecer distinções, com base em pretensa pureza
doutrinária, relativamente às formas de administração e de realização prática
da Doutrina Espírita, portas a dentro de nosso movimento, ou mesmo em relação a
crenças afins (cujos integrantes estão se esforçando para levar adiante o seu
ideal espiritualista) agindo, assim, como se fossem “seres superiores” ou donos
da verdade !
Tais “discriminações”
significam que somente tais organizações ou os que as dirigem são os
VERDADEIROS INTERPRETES do pensamento dos Espíritos e que se as demais
instituições não andarem pelos seus padrões formais de idéias e ações, não
podem ser considerados como fazendo parte integrante da grande família Espírita
que um dia há de formar toda a humanidade. Significa, enfim, que somente
aquelas entidades estão certas e as demais erradas em suas idéias e práticas
espiritistas, baseados em pretensa pureza doutrinária.
Em quarto lugar, é a
possibilidade de doação de Cursos, em seus diversos aspectos, como condição
básica para o trabalho e a prática doutrinária (seja no campo da divulgação,
seja no campo mediúnico), estabelecendo GRAUS de aprendizado, esquecendo-se de
que todos somos aprendizes na Escola Evangélica dos ensinos de Jesus à luz do
Espiritismo, e que se tornam desnecessárias quaisquer Formalismos Oficializados
para o processo do aprendizado referido.
B- A Burocratização e o
Formalismo
São também duas formas de
Elitismo que podem se manifestar em nossas organizações (Centros e Instituições
outras), principalmente na área dos órgãos unificadores e a serviço daqueles
que estão na direção e em detrimento da Natureza simples e Informal do
Espiritismo que revive o Cristianismo em sua pureza e simplicidade.
Por burocracia entendemos
todos como sendo o “poder exercido pelas complexas organizações administrativas
modernas, através da classe que esta na direção e que se torna uma forma de
emperramento dos trabalhos na administração pública ou privada, pela excessiva
centralização e indébita ingerência ou interferência desses elementos na
atuação dos indivíduos e sociedades vinculadas à máquina administrativa, com
Exigências descabidas, desnecessárias e sem importância, tornando-se a direção
cada vez mais alta e distanciada do povo”.
Na área Espírita, a
burocratizarão estaria presente na ação daquelas entidades, através de
dirigentes com tendências à Chefia Autocrática, exigindo a observância de
regras estatutárias, esquecendo-se de que o Estatuto de uma associação espírita
existe apenas para dar satisfação à Lei humana e que, o que interessa
realmente, é o TRABALHO, a tarefa a ser feita com vistas à mais perfeita
realização do Espiritismo em sua feição evangélica. Seria ainda a adoção, por
parte de certos dirigentes espíritas, em seus estatutos, da exigência de
condições materiais, formais como, por exemplo, o pagamento de mensalidades ou
anuidades para que os sócios ou membros do Grupo possam exercer o direito de
voto, quando as únicas condições seriam de ordem espiritual, ou sejam: a
qualidade de espírita e sua participação na vida do Grupo, através da
colaboração de qualquer natureza.
Também poderia estar
presente na ação daqueles dirigentes de Organizações Federativas com tendências
autocráticas, agora com interferências ou ingerências descabidas em nossas
instituições adesas, através de exigências formais de filiação e subordinação
às suas resoluções hierárquicas, esquecendo-se do verdadeiro significado do
Movimento de Unificação dos Espíritas (e não do Espiritismo que se apresenta já
unificado em suas bases doutrinárias); a colaboração real a ajuda
despersonalizada às instituições adesas, o apoio e incentivo à realização das tarefas
espiritistas nas respectivas instituições ou Centros de difusão da Doutrina
Espírita, bem como a realização de trabalhos de equipe como forma de
compreensão e aproximação da família espírita brasileira, aceitos
espontaneamente em assembléias fraternas, onde a tônica seja a Liberdade de
participação de seus membros e a União em torno da idéia Espírita!
Com a criação dessas
entidades federativas, sem a verdadeira compreensão de suas reais finalidades,
corre-se o risco da Institucionalização burocrática, Igrejista do Espiritismo,
repetindo os erros das Religiões tradicionais, com as exigências formais de
Filiação obrigatória das Instituições Espíritas em seus órgãos, com a
observância da hierarquia, através de resoluções locais, estaduais e nacionais,
em detrimento do espírito de Liberdade de ação e da legítima fraternidade de
seus membros, sob a alegação de que, estando aumentando o número de adeptos da
Doutrina Espírita, há necessidade da unificação, com vistas à defesa de seus
princípios doutrinários, substituindo, assim, o fraternal e autêntico calor das
relações humanas, pelo papel dos representantes, esquecendo-se de que o
Espiritismo não é obra de encarnados e sim dos Espíritos.
E pensamos assim porque não
podemos admitir a introdução de modificações em nossas práticas espiritistas
que retirem a liberdade do Espírita de trabalhar, de opinar, porque é livre
para fazer o que quer e dizer o que pensa, não aceitando palavras definitivas
em nenhum assunto, mas procurando observar o ensino dos nossos benfeitores
Espirituais quando nos lembram que a Doutrina Espírita é o nosso maior órgão
orientador!...
Vale lembrar a palavra de
Erik Froom : “Nisso consiste precisamente a tragédia de todas as religiões ;
violam e pervertem o princípio de Liberdade logo que se transformam em
organizações dirigidas por uma Burocracia religiosa. A máquina religiosa e os
homens que a representam tornam-se substitutos da família, da tribo, do estado
e não se cultua mais a Deus, mas ao grupo que fala em nome...”. (Psicanálise e
Religião).
E o Formalismo, ou seja a
adoção de práticas ou fórmulas consideradas indispensáveis à manifestação da
substância doutrinária de uma filosofia de vida?
Ainda aqui, e apesar de
serem menores as probabilidades de sua ação perniciosa, o perigo pode surgir,
sob formas sutis de manifestações.
Seria a introdução em nossas
reuniões de estudo, de difusão ou mesmo mediúnicas, de certas práticas formais
sem as quais não teríamos a sua realização, práticas essas “recomendadas” por
Seres encarnados ou Órgãos federativos, sob a alegação de defenderem a pureza
doutrinária.
De escantilhão, lembraríamos
a área de Evangelização da criança, que as probabilidades de sua manifestação
seriam maiores, quando os orientadores de infância procuram se apegar aos
processos pedagógicos sofisticados, às técnicas e recursos didáticos, mas sem
qualquer vibração de Carinho, de Amor, de Compreensão, de Ajuda, de
Esclarecimento espiritual e moral para com as crianças !...
Poderia parecer que
estejamos nos posicionando contrariamente à adoção das técnicas e recursos
pedagógicos em nossas aulas de evangelização da criança ou mesmo em qualquer
setor de estudo e difusão da Doutrina. Nada disso. O que queremos dizer é que
se deve buscar o aperfeiçoamento de nossos meios de comunicação de idéias, sem
dar aos métodos e recursos o papel principal, pois o que predominantemente se
deve objetivar é atingir o Coração das criaturas humanas com os recursos do
sentimento.
C- Do Autoritarismo no
comportamento dos Dirigentes Espíritas.
Sem dúvida alguma, a atitude
autoritária, em matéria de religião, é uma das formas de que se pode revestir o
Elitismo no meio Espírita, a exemplo do que aconteceu nas religiões
tradicionais, pois leva o homem a abdicar de sua razão, de sua liberdade e amor
para ser guiado pelo “Chefe”, em nome de uma Falsa Liderança.
Essa atitude autoritária, de
mandonismo pode ocorrer em nossa seara quando os dirigentes, com tendências
inatas pelo Desejo de Poder, com exagerada supervalorizacão de si mesmos (orgulho)
e de suas realizações, e incapacidade de dialogar democraticamente com o povo
e, ainda, na maioria das vezes, com visível obsessão, utilizam o conceito de
missão para se considerarem “Designados” pelo Alto, com autoridade para decidir
sobre qualquer assunto tornando-se “ditadores” nas instituições que dirigem,
ditando normas rigoristas e padrões exteriores de comportamento dos seus
liderados.
Nesse caso, os ideais que
estão na base de suas Instituições, passam a ser fins em si mesmos e não meios
para a felicidade pessoal, tornando-se os seus dirigentes manipuladores dos
seus semelhantes que aceitam as “orientações” pelo fato da liderança formal.
Daí o rigorismo e a
imposição de ideias, diretrizes por parte desses dirigentes, esquecendo-se de que
os verdadeiros missionários, a exemplo de nosso querido Chico Xavier, não se
arvoram em chefes, ficando apenas no terreno das “orientações espirituais”
(como médium que é) ou das sugestões de trabalho ou estímulo aos confrades que
o procuram, impondo-se exclusivamente pela sua condição moral, espiritual.
Na verdade, é a substituição
da crença no valor do estudo, do diálogo e das decisões em assembléias
fraternas, em que a participação democrática dever ser a tônica, a partir das
bases, pela decisão dos representantes sem conhecimento e vivência dos
problemas; é a substituição do critério de valorização em razão do trabalho que
está sendo realizado pelos aptos espiritualmente a exercê-lo pelo respeito ao
indivíduo em razão do lugar que ocupa na sociedade, sem indagar de sua capacidade
e condições espirituais, esquecendo-se de como trabalhavam os apóstolos nas
assembléias e comunidades cristãs dos primeiros tempos do Cristianismo.
CONCLUSÕES PARCIAIS
5- A Terapêutica ou as
Formas de Combate ao Elitismo no Meio Espírita.
Mas, como toda crítica
construtiva não pode existir sem uma solução preventiva e terapêutica
satisfatórias, temos que responder à questão: como evitar que o Espiritismo
seja deturpado, como o foi o Cristianismo primitivo, pelos sacerdotes políticos
de todos os tempos?
Parece-nos que a única
solução satisfatória é o Estudo detalhado desses perigos e a aplicação de
antídotos de esclarecimento fraterno e corajoso, da educação em todos os níveis
e, sobretudo da atitude de Amor e Tolerância no combate às hipocrisias e violências
doutrinárias, exemplificando o trabalho, a fidelidade à Doutrina Espírita,
considerando-a como o único órgão orientador!
Com base nessa assertiva,
poderíamos apenas recordar alguns aspectos para a meditação e o estudo daqueles
que se preocupam com a matéria.
Dessa forma:
A- É necessário que nos
conscientizemos de que, se o Cristianismo primitivo trazia ao homem a grande
mensagem do Cristo, isto é, Liberdade e Amor, Educação e Paz será preponderante
pelas modificações que trará às idéias, às opiniões, aos caracteres, aos
costumes e às relações sociais, conforme nos diz Kardec em “A Gênese”. E maior
será essa influência pela circunstância de não ser imposta.
B- Que o Espiritismo é
Libertação Espiritual e um gigantesco esforço para a Educação do Mundo. Não é o
único esforço e muito menos o que está melhor organizado, mas é, pelas suas
características, o mais apto para secundar o movimento de regeneração social,
por isso é seu contemporâneo.
C- Que o Espiritismo veio
para as massas e com ela dialogar, a exemplo de Jesus, cuja maior paixão era o
Povo, “convivendo com ele, sentindo-lhe as dores e servindo-o sem interesses
secundários, conforme o amai-vos uns aos outros, a senda maior de nossa
emancipação” (mensagem “Paixão de Jesus”, de E. Quadros, em “O Espírito da
Verdade” (Feb), obra psicografada por Chico Xavier e Waldo Vieira).
D- Que devemos levar a
Doutrina Espírita junto à toda comunidade, através do respeito a todas as
criaturas, apreço às autoridades, devotamento ao bem comum e instrução do povo,
em todas as direções sobre as verdades do Espírito, imutáveis, eternas (Bezerra
de Menezes, em Unificação - Serviço Urgente mas não apressado). Nesse sentido,
ressaltaria muito bem Salvador Gentile, em Anuário Espírita
de 1.977:
“Por mais respeitáveis os
títulos acadêmicos que detenhamos, não hesitemos em nos confundir na multidão
para aprender a viver, com ela, a grande mensagem!”. (Opus Cit.).
E- Que devemos amar a todos
os companheiros, principalmente os mais humildes social e intelectualmente,
falando com eles e deles nos aproximando com real espírito de Compreensão e
Fraternidade, sem nos colocarmos em pretensas posições de superioridade,
privilégios e personalismos deprimentes.
F- Que os mais sábios sejam
apoio e amparo aos menos esclarecidos ou em dificuldades materiais ou
espirituais, sem exigências de elevação e crescimento.
G- Que o Espiritismo
evangélico é respeitar e auxiliar, amparar e elevar sempre. Chico Xavier em
entrevista ao Triângulo Espírita, repelindo toda tentativa de oficialização do
movimento espírita, a exemplo do que fizeram as autoridades eclesiásticas,
conforme nos ensina Emmanuel em “A Caminho da Luz” (Feb):
“As autoridades
eclesiásticas compreendem que é preciso fanatizar o povo, impondo-lhes suas
idéias e concepções e, longe de educar a alma das massas, na sublime lição do
Nazareno, entram em acordo com a preferência pelas solenidades exteriores, pelo
culto fácil do mundo externo, tão a gosto dos antigos romanos pouco inclinados
às indagações transcendentes”. (Opus Cit.).
H- Que não temos o direito
de deturpar a mensagem dos Espíritos como aconteceu com o Cristianismo, criando
uma “classe de privilegiados”, pretensos representantes de Deus na Terra, pois
a Doutrina Espírita não é obra de encarnados, mas dos Espíritos, com o objetivo
de restaurar os ensinos de Jesus!
I- Que a Religião Espírita
não pode admitir em seu seio qualquer tentativa de Igrejismo, de subordinação a
quem quer que seja, ou alguma coisa que lembre Castas, Chefias, Privilégios ou
Prioridades e Formalismos, como nos lembra Dr. Bezerra de Menezes em sua
mensagem citada acima, próprios de Religiões organizadas ou formalistas, e onde
o Elitismo passa a ser a tônica, buscando, isto sim, os Espíritas-Cristãos a
corporificar em seu movimento a aspirada “Assembléia do Cristo” enunciada por
Paulo de Tarso. É por isso que encontramos nos agrupamentos espiritistas,
ombreando lado a lado, os que alcançaram até os mais altos graus de
conhecimentos humanos , com aqueles outros, verdadeiros caboclos, homens
simples do povo, falando a “língua dos anjos”, isto é, fazendo as mais lindas
exposições evangélicas sem qualquer conhecimento de gramática e demonstrando
que o IDE E PREGAI não é privilégio de ninguém e que aqueles que possuem maior
soma de conhecimento têm a obrigação de ajudar aos mais ignorantes, aos
marginalizados da Cultura Acadêmica. Aliás, somente nesse sentido poderíamos
admitir no seio da Doutrina Espírita uma espécie de Elite Participante. Aquela
aristocracia intelecto-moral de que falava Allan Kardec e de que deve estar
ligada à promoção do Povo como elemento catalisador, sem qualquer sentido
elitista, de classe hermética ou privilegiada, com “espírito de cúpula”,
conforme nos diz Chico Xavier, interpretando o pensamento dos Espíritos, em sua
entrevista dada ao Triângulo Espírita e reproduzida no livro “Encontros no
Tempo”.
6- O Elitismo e a Doutrina
de Jesus.
Com essas considerações
precedentes, acreditamos ter contribuído de alguma forma, para o estudo da
matéria enfocada com vistas à adoção de formas instrumentais de combate ao
elitismo no Movimento Espírita, embora saibamos serem poucas as probabilidades
de sua manifestação em nossa seara.
Parece-nos, todavia, que não
existe maior Antídoto para evitar qualquer tentativa elitista em nosso
movimento religioso do que recordar o Mestre Jesus, pois a Liberdade e o Amor
são a essência de seus ensinos.
Na verdade, o que Cristo, a
todo custo tenta despertar, reviver e garantir é a Liberdade do coração humano,
contra as ameaças e a falsa doutrina dos seus pretensos líderes religiosos. E
por isso mesmo, Ele denuncia os fariseus, os sacerdotes políticos quanto às
suas hipocrisias, seu orgulho, sua auto-suficiência, sua falsidade, tanto nas
relações com Deus como no tratamento do próximo, chamando-os de “arca de
víboras”!
Sua mensagem ataca as
atitudes de fechamento e de insensibilidade que caracterizam os líderes de seu
tempo, e demonstra com os seus ensinos e práticas que a Boa Nova se opõe a toda
rigidez, a todo fechamento ao próximo, a toda atitude mesquinha que leva a
afogar o essencial no mar do acessório. É assim que, frente às divisões entre
Bons e Maus, que são frutos do egoísmo, Ele se mostra Livre, declarando que os
critérios da divisão são interiores e não dados por preconceitos. “Não é o que
entra pela boca que mancha o homem, mas o que sai de seu coração”. Por isso,
come com os pecadores, atende aos pagãos, dialoga com as prostitutas, os
publicanos, etc., dizendo claramente aos fariseus: “as meretrizes e os
publicanos vos precederão no Reino de Deus”.
Diante da observância rígida
da lei do Sábado, Jesus declara que o Sábado é feito para o homem e não o homem
para o Sábado (Mc. 2.27). Ele cura no Sábado (Lc. 6.6.10), manda carregar a
cama do paralítico curado (Jo. 5,8,10).
Com relação ao Jejum, à
esmola, à oração, Jesus sugere critérios interiores para determinar o valor das
atitudes evangélicas. Critica as orações quando feitas para se exibir, as
esmolas quando não parte da verdadeira caridade, o Jejum que não diz respeito
ao aspecto espiritual.
Ante o Culto e o Templo,
Jesus coloca em questão todo o sistema montado pelos saduceus, relativamente à
crença na presença de Javé no lugar considerado sagrado, e autoridade dos
sacerdotes que oferecem sacrifícios, mas desprezam os mandamentos divinos,
oprimindo o povo simples e pobre e dele se distanciando com idéias e atos
preconceituosos: “Eu quero misericórdia e não sacrifício”. No diálogo com a
Samaritana, sobre o lugar de se adorar a Deus (Jerusalém ou Garazim) Jesus
proclama a “adoração interior”. “Em verdade vos digo que Deus é Espírito e somente
em Espírito pode ser adorado no templo do coração”!
Sobre o culto que era todo
exterior, Jesus denuncia: “Hipócritas, bem profetizou de vós o Profeta Isaías: este
povo me honra com os lábios, mas seu coração esta longe de mim. Em vão se
prestam cultos, ensinando doutrinas que são preceitos humanos.” (Mt. 15.8.10).
Perante a distinção entre
santo e pecador, Jesus vai dar preferência ao pecador, em clara demonstração
que não existe um estatuto para se diferenciar as pessoas nessas duas
categorias, antepondo o publicano ao Fariseu (Lc. 18.9-14), louvando a fé da
mulher síro-fenícia (Mt. 15.21.28) e na parábola do filho pródigo justifica
este em lugar do irmão que se considera justo, recordando o ensino do Profeta
Ezequiel: “Deus não quer a morte do ímpio, mas que ele se converta e viva!”
Conclamou-nos Jesus à busca
do Reino de Deus, dizendo: “buscai o Reino de Deus e sua Justiça e o resto vos
será dado por acréscimo”, afirmando todavia que ele não vem com aparências
externas mas que se encontra dentro de nós, no templo do coração e que para
alcança-lo há necessidade de nascer de novo (reencarnação) acompanhada de seu
fruto: a prática das boas obras, consubstanciada na observância do Amor,
presente nas Bem-aventuranças!...
O Espírito Pascal, em “O
Evangelho Segundo o Espiritismo”, teve oportunidade de asseverar: “O Cristo
nunca se esquivava; aqueles que o procuravam, fossem quem fossem, não eram
repudiados. A mulher adúltera, o criminoso, eram socorridos por ele, que jamais
temeu prejudicar a sua própria reputação”.
Jesus coloca no centro de
sua mensagem o Amor como condição da evolução da criatura humana, nada
adiantando as práticas exteriores: “Este é o meu mandamento, que vos amem uns
aos outros como eu vos tenho amado. Nisto conhecereis que sois meus discípulos”.
(Jo. 15.12). E assenta a Lei Áurea no Princípio da Paternidade Universal que
proclama o Deus único, transcendente e imanente, e todas as criaturas como seus
filhos e, consequentemente, como sendo todos irmãos, e revelando, ainda, a sua
visão cósmica ao afirmar que “Na casa do Pai há muitas moradas”. ( Pluralidade
dos Mundos Habitados).
Finalmente, o Cristo que é
modelo de Perfeição na Terra, exemplificou todos os seus ensinos evangélicos
com total abnegação: “missionário do Amor, amou até dar o sangue e a própria
vida” (Fénelon, em sua mensagem ‘O Ódio’, constante de “O Evangelho Segundo o
Espiritismo”).
Em síntese, os ensinos de
Jesus evidenciam: a nenhuma vinculação a práticas exteriores; a nenhum
ritualismo, a nenhuma organização autocrática, enfim, a qualquer forma de
violência em termos de imposição de ideias, de atitudes ou condenação, pelo
contrário, somente pregou a Liberdade do coração humano, o Amor e o Perdão.
Ainda assim, sua mensagem
reflete a sua vida, onde procura “Abrir-se” ao próximo combatendo
incessantemente qualquer atitude que pudesse implicar em afastamento do Povo,
em qualquer violência espiritual.
Aliás, já dizia Herculano
Pires, em “O Espírito e o Tempo”: “Sua palavra mansa e generosa, reunia todos
os infortunados e todos os pecadores. Escolheu os ambientes mais pobres e mais
desataviados para viver a intensidade de suas lições sublimes, mostrando aos
homens que a verdade dispensava o cenário feito dos areópagos, dos fóruns e dos
templos, para fazer-se ouvir na sua misteriosa beleza. Suas pregações nas
praças públicas verificam-se a propósito dos seres mais desprotegidos e
desclassificados, como a demonstrar que a sua palavra vinha reunir todas as
criaturas na mesma vibração de fraternidade e na mesma estrada luminosa do Amor.
Combateu pacificamente todas as violências oficiais do Judaísmo, renovando a
Lei Antiga, com a Doutrina do Esclarecimento, da tolerância e do perdão.
Espalhou as mais claras visões da vida imortal, ensinando às criaturas humanas
que existe algo superior às pátrias, às bandeiras, ao sangue e às leis.”
Em síntese, além de ensinar
e garantir a liberdade do coração humano contra toda e qualquer violência
espiritual e de sua nenhuma vinculação a quaisquer práticas elitistas, a lei
Áurea do Amor como condição de evolução, ensinaria igualmente como o Cristão
deve proceder em relação aos outros e à toda humanidade proclamando : “o que
entre vós é maior seja como o menor; e aquele que manda, seja como o que serve”
(Lucas, 22-26). Em outras palavras, “se alguém quer ser o primeiro, será o
último de todos, o servo de todos” (Mc. 9-35). Jesus ensinou que não veio para
ser servido, mas para servir : “Se eu pois, sendo Senhor e Mestre, vos lavei os
pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros”. (Jo. 13.14).
Nós não poderíamos encerrar
este opúsculo sem deixar de registrar a grande recomendação de Jesus aos seus
discípulos:
“Os meus discípulos serão
conhecidos por muito se amarem”.
Acreditando nós, com a
publicação do presente trabalho, ter colaborado para o estudo e a pesquisa da
matéria focalizada, ensejando, assim, novas contribuições críticas em torno do
Elitismo, uma real violência contra o espírito de Liberdade que foi apanágio do
Cristianismo e que não pode acontecer no Espiritismo que o revive em espírito e
verdade!...
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POSTADO POR:
Fernando Rosemberg
Patrocínio:
Fundador de Casa Espírita
Cristã, Articulista, Coordenador de Estudos Doutrinários, Palestrante e
Escritor com dezenas de e.Books gratuitos instalados em seu blog abaixo
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12-O Médium de Deus;
13-A Grande Síntese e Mecanismo;
14-Evangelho da Ciência;
15-Codificação Espírita: Reformulação;
16-Kardecismo e Espiritismo;
17-Geometria e Álgebra Palingenésicas (web artigos);
18-Maiêutica do Século XXI;
19-Espiritismo: Fundamentações;
20-Ciência de Tudo: Big-Bang;
21-Evolução: Jornadas do Espírito;
22-O Homem Integral (Reflexões);
23-Espiritismo e Filosofia;
24-André Luiz e Sua-Voz;
25-O Livro dos Espíritos: Queda Espiritual;
26-Evidências do Espírito;
27-Construção Bio-Transmutável;
28-Mediunidade Genial (web artigos);
29-Conhecimento e Espiritismo;
30-O Paradigma Absoluto;
31-O Fenômeno Existencial;
32-Chico-Kardec: Franca Teorização;
33-O Maior dos Brasileiros;
34-Espiritismo: Síntese Filosófica;
35-O Livro dos Espíritos: Simples e Complexo;
36-O Livro dos Espíritos: Níveis Filosóficos;
37-Espiritismo: Queda e Salvação;
38-Geometria Cósmica do Espiritismo;
39-Matemática da Reencarnação;
40-Kardec, Roustaing e Pietro Ubaldi;
41-Espiritismo e Livre Pensamento;
42-Síntese Embriológica do Homem;
43-Jean-Baptiste Roustaing: Réplica Primeira;
44-Jean-Baptiste Roustaing: Réplica Segunda;
45-Jean-Baptiste Roustaing: Réplica Terceira;
46-Consenso Universal: Tríplice Aspecto;
47-Método Pedagógico dos Evangelhos;
48-Cristo: de Roustaing a Pietro Ubaldi;
49-Estratégias da Revelação Espírita;
50-Trilogia Codificada e Rustenismo;
51-Cosmogênese do Terceiro Milênio;
52-Tertúlias Multidimensionais;
51-Cosmogênese do Terceiro Milênio;
52-Tertúlias Multidimensionais;
53-Cristianismo: Teologia Cíclica;
54-Análise de Temas Codificados;
55-Deus: Espírito e Matéria;
56-Razões e Funções da Dor;
57-Emmanuel: Insigne Revelador;
58-A Queda dos Anjos;
59-Homem: Vença-te a Ti Mesmo;
60-Evangelho: Evolução Salvífica;
61-O Espírito da Verdade;
62-Balizas do Terceiro Milênio;
63-Sentimento: Molde Vibrátil de Ideias;
64-Ciência do Século XX;
65-A Revolução Ética.
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