sexta-feira, 15 de abril de 2016

TEORIA DA BELEZA


TEORIA DA BELEZA

Respeitável amigo me interpela, consoante texto abaixo transcrito e já tão debatido em nossos meios doutrinais, e fora dele: se Kardec era um racista e não um humanista? O texto a que o amigo se refere, transcrevo-o novamente para o analisarmos mais detidamente e com isso o conceituarmos melhor:

“O negro pode ser belo para o negro, como um gato é belo para um gato; mas, não é belo em sentido absoluto, porque seus traços grosseiros, seus lábios espessos acusam a materialidade dos instintos; podem exprimir as paixões violentas, mas não pode prestar-se a evidenciar os delicados matizes do sentimento, nem as modulações de um espírito fino”. (Vide: “Obras Póstumas” – ‘Teoria da Beleza’  – Allan Kardec - Feb).

Óbvio que tal definição, retratando uma opinião pessoal, expressa algum preconceito com relação ao negro, mas não expressa, a meu ver, racismo, pois que tal palavra (racismo) encerra uma carga semântica muito grave para a imputarmos ao Codificador do Espiritismo que, para mim, fora um grande humanista. Ora, racismo expressa desigualdade, desprezo, hostilidade, violência, coisas incompatíveis com o que se conhece da vida comportamental e dos escritos do célebre Codificador do Cristianismo Redivivo, ou, do que se conhece como Espiritismo.

Aliás, Espiritismo que, como o nome mesmo sugere, trata-se da Doutrina dos Espíritos Superiores, que implanta:

“... as bases do novo edifício que se eleva e deve um dia reunir todos os homens num mesmo sentimento de amor e de caridade”. (Vide: “OLE” – A.K. – Ide).

Logo, a supracitada definição de Kardec com relação ao negro, fora por certo indelicada e deveras infeliz, sobretudo quando a mesma for descontextualizada, ou seja, isolada e distinguível das seis (6) páginas que compõem a “Teoria da Beleza”, parágrafo especial do citado livro: “Obras Póstumas”, publicado pela Feb editora.

Por outro lado, é preciso se entenda, como já citado em meu texto: “Idiossincrasias de Kardec”, que o Codificador era detentor, como todos nós o somos, de qualidades e defeitos, sendo um homem, portanto, do seu tempo, de sua cultura, de seus saberes do Século 19, devendo acrescentar-se ainda que, à época, todos acreditavam nos degraus que definiam a superioridade e inferioridade das raças, principalmente dos negros que, por sinal, foram violentados em sua cultura como também escravizados pelos brancos; sendo que, por aí, questiona-se: eram superiores os brancos que violentaram e escravizaram os negros ou eram superiores estes que se submeteram àqueles?

E, mais ainda, à época de Kardec, estava em voga a Frenologia, de Franz Josef Gall, uma ciência hoje inteiramente descartada por suas inverdades e contradições; por outro lado, ainda, Kardec, na “RE”, de 1860 e 1862, também tece outras considerações sobre tal Ciência à luz do Espiritismo.

Mas vejam que os negros, na referida página de Kardec, também se consideram mais belos que os brancos, e, no início de sua “Teoria” o Codificador se refere a tal:

“Será a beleza coisa convencional e relativa a cada tipo? O que, para certos povos, constitui a beleza, não será para outros, horrenda fealdade? Os negros se consideram mais belos que os brancos e vice-versa. Nesse conflito de gostos, haverá uma beleza absoluta? Em que consiste ela? Somos realmente mais belos do que os hotentotes e os cafres? Por quê?”. (Opus Cit.).

E, a partir de tal ponto, de muitos questionamentos  e observações variadas, Kardec inicia sua “Teoria”, mas veja bem: teoria, conjectura, estudo que, tanto pode ser consolidado por mim como por você, e, o simples fato de os negros se acharem mais belos que os brancos, e vice-versa, como acima citado, isto, por si só, já coloca a questão ao nível da relatividade, mesmo porque, todos já ouviram ou já conhecem o dito popular: quem ama o feio, bonito lhe parece.

Assim, pois, torna-se discussão inútil e estéril definir-se beleza humana, beleza dos corpos, pois todos são corpos da Criação Divina, e, nossos gostos, conquanto tenhamos o direito de expressá-los, eles são indiferentes para Deus no sentido de que Ele nos ama com infinito Amor, e que, portanto, não criara dois tipos de Espíritos, sendo eles, pois, tipos iguais em sua conformação interior, espiritual e moral.

Por conseguinte, os tipos biológicos são todos eles da raça humana, e não da raça branca, negra ou amarela que os distingue pela cor e não pelos seus valores morais; distinção que Deus, como sinônimo de Pai, e dotado de Infinito Amor pelos seus filhos, não faria e não faz distinção de seus filhos pelos corpos que Ele mesmo criara não para a nossa discriminação e sim para a nossa compreensão das infinitas possibilidades de Deus-Pai-Criador.

E, por outro lado, Kardec já havia dito em tal “Teoria” que:

“... o ideal da forma há de ser a que revestem os Espíritos em estado de pureza, e com que sonham os poetas e os verdadeiros artistas, porque penetram, pelos pensamentos, nos Mundos superiores”. (Opus Cit.).

Mesmo porque em tal “Teoria” mesma está codificada uma Instrução Altíssima que, por sua vez, coloca por terra os argumentos preconceituosos, racistas, sejam eles de quem quer que seja, e que, ainda, muito empalidece a já tão infeliz e citada especulação de Kardec, fundamentada, aliás, em estudos de um livro de Carlos Richard; mas vamos à Instrução Altíssima:

“A beleza, do ponto de vista puramente humano, é uma questão muito discutível e muito discutida. Para a apreciarmos bem, precisamos estudá-la como amador desinteressado. Aquele que estiver sob o encantamento não pode ter voz no capítulo. Também entra em linha de conta o gosto de cada um, nas apreciações que se fazem.”

“Belo, realmente belo só é o que o é sempre e para todos; e essa beleza eterna, infinita é a manifestação divina em seus aspectos incessantemente variados; é Deus em suas obras e nas suas leis! Eis aí a única beleza absoluta. É a harmonia das harmonias e tem direito ao título de absoluta, porque nada de mais belo se pode conceber”.

“Quanto ao que se convencionou chamar belo e que é, verdadeiramente digno desse título, não deve ser considerado senão como coisa essencialmente relativa, porquanto sempre se pode conceber alguma coisa mais bela, mais perfeita. Somente uma beleza existe e uma única perfeição: Deus. Fora dele, tudo o que adornamos com esses atributos não passa de pálido reflexo do belo único, de um aspecto harmonioso das mil e uma harmonias da Criação”.

“Há tantas harmonias, quantos objetos criados, quantas belezas típicas, por conseguinte, determinando o ponto culminante da perfeição que qualquer das subdivisões do elemento animado pode alcançar. – A pedra é bela e bela de modos diversos – Cada espécie mineral tem suas harmonias e o elemento que reúne todas as harmonias da espécie possui a maior soma de beleza que a espécie possa alcançar”.

“A flor tem suas harmonia; também ela pode possuí-las todas ou insuladamente e ser diferentemente bela, mas somente será bela quando as harmonias que concorrem para a sua criação se acharem harmonicamente fusionadas. – Dois tipos de beleza podem produzir, por fusão, um ser híbrido, informe, de aspecto repulsivo. – Há então cacofonia! Todas as vibrações, insuladamente, eram harmônicas, mas a diferença de tonalidade entre elas produziu um desacordo, ao encontrarem-se as ondas vibrantes; daí o monstro!”.

“Descendo a escala criada, cada tipo animal dá lugar às mesmas observações e a ferocidade, a manha, até a inveja poderá dar origem a belezas especiais, se estiver sem mistura o princípio que determina a forma. A harmonia, mesmo no mal, produz o belo. Há o belo satânico e o belo angélico; a beleza enérgica e a beleza resignada”.

“Cada sentimento, cada feixe de sentimentos, contanto que seja harmônico, produz um particular tipo de beleza, cujos aspectos humano são todos, não degenerescências, mas esboços. É, pois, certo dizermos, não que somos mais belos, porém que nos aproximamos cada vez mais da beleza real, à medida que nos elevamos para a perfeição”.

“Todos os tipos se unem harmonicamente no perfeito. Daí o ser este o belo absoluto. – Nós que progredimos possuímos apenas uma beleza relativa, debilitada e combatida pelos elementos desarmônicos da nossa natureza”.

“Lavater (Espírito)”.

Assim, pois, tudo quanto há de preconceito, de fealdade e de incorreções na referida “Teoria” de Allan Kardec e que fora inspirada, aliás, nos desacertos de Carlos Richard e pelo citado Franz Josef Gall, o fato é que ela muito se fragiliza com a altíssima instrução do Espírito Lavater, com ilações espirituais e morais que transcendem todas as conjecturas e preconceitos humanos colocando as coisas em seu devido lugar.

Logo, o tiro saiu pela culatra...

E é nisto que dá em meter o bedelho em temas tão sensíveis, tão delicados, que nos podem denegrir antes que nos realçar.

Logo, Kardec, mais uma vez, era mesmo um Ser humano com suas idiossincrasias, virtudes e defeitos tão evidentes e tão fáceis de serem constatados. Sua “teoria” com ‘t’ minúsculo se fragiliza e muito se empalidece diante da “Teoria” com maiúsculo contido na página do iluminado Lavater.

Finalizando: muito se engana e se ilude os mais ortodoxos que querem um Kardec perfeito, cláusula pétrea e não suscetível de correções em seus escritos “inabaláveis” e “indiscutíveis”; o que não condiz com a realidade.

É lamentável que, de tal forma, alguns possam pensar!

No mais, um grande abraço do amigo de sempre, e, para sempre:

Fernando Rosemberg Patrocinio:
Fundador de Casa Espírita Cristã, Coordenador de Estudos Doutrinários, Articulista, Palestrante e Escritor de dezenas de e.Books gratuitos em seu blog abaixo transcrito.

Relação dos e.Books de:
Fernando Rosemberg Patrocínio

01-Ciência Espírita: Tese Informal;
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05-Espaço-Tempo: Física Transcendental;
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09-Axiologia do Evangelho;
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12-O Médium de Deus;
13-A Grande Síntese e Mecanismo;
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18-Maiêutica do Século XXI;
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21-Evolução: Jornadas do Espírito;
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23-Espiritismo e Filosofia;
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25-O Livro dos Espíritos: Queda Espiritual;
26-Evidências do Espírito;
27-Construção Bio-Transmutável;
28-Mediunidade Genial (web artigos);
29-Conhecimento e Espiritismo;
30-O Paradigma Absoluto;
31-O Fenômeno Existencial;
32-Chico-Kardec: Franca Teorização;
33-O Maior dos Brasileiros;
34-Espiritismo: Síntese Filosófica;
35-O Livro dos Espíritos: Simples e Complexo;
36-O Livro dos Espíritos: Níveis Filosóficos;
37-Espiritismo: Queda e Salvação;
38-Geometria Cósmica do Espiritismo;
39-Matemática da Reencarnação;
40-Kardec, Roustaing e Pietro Ubaldi;
41-Espiritismo e Livre Pensamento;
42-Síntese Embriológica do Homem;
43-Jean-Baptiste Roustaing: Réplica Primeira;
44-Jean-Baptiste Roustaing: Réplica Segunda;
45-Jean-Baptiste Roustaing: Réplica Terceira;
46-Consenso Universal: Tríplice Aspecto;
47-Método Pedagógico dos Evangelhos;
48-Cristo: de Roustaing a Pietro Ubaldi;
49-Estratégias da Revelação Espírita;
50-Trilogia Codificada e Rustenismo;
51-Cosmogênese do Terceiro Milênio;
52-Tertúlias Multidimensionais;
53-Cristianismo: Teologia Cíclica;
54-Análise de Temas Codificados;
55-Deus: Espírito e Matéria;
56-Razões e Funções da Dor;
57-Emmanuel: Notável Revelador;
58-A Queda dos Anjos;
59-Homem: Vença-te a Ti Mesmo;
60-Evangelho: Evolução Salvífica;
61-O Espírito da Verdade;
62-Balizas do Terceiro Milênio.
63-Sentimento: Molde Vibrátil de Ideias;
64-Ciência do Século XX;

65-A Revolução Ética.
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Blog: Filosofia do Infinito
http://fernandorosembergpatrocinio.blogspot.com.br
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Um comentário:

  1. Qualquer argumento dito por um homem, deve ser contextualizado. Porém, nas obras básicas contém ensinamentos transmitidos por médiuns de espíritos superiores. Então, como entender que a espiritualidade superior, não foi capaz de transmitir neste em outros trechos, que se referi aos selvagens, a igualdade das raças e culturas.

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