TEORIA DA BELEZA
Respeitável amigo me interpela, consoante texto abaixo transcrito e
já tão debatido em nossos meios doutrinais, e fora dele: se Kardec era um
racista e não um humanista? O texto a que o amigo se refere, transcrevo-o
novamente para o analisarmos mais detidamente e com isso o conceituarmos
melhor:
“O negro pode ser belo
para o negro, como um gato é belo para um gato; mas, não é belo em sentido
absoluto, porque seus traços grosseiros, seus lábios espessos acusam a
materialidade dos instintos; podem exprimir as paixões violentas, mas não pode
prestar-se a evidenciar os delicados matizes do sentimento, nem as modulações
de um espírito fino”. (Vide: “Obras Póstumas” – ‘Teoria da Beleza’ – Allan
Kardec - Feb).
Óbvio que tal
definição, retratando uma opinião pessoal, expressa algum preconceito com
relação ao negro, mas não expressa, a meu ver, racismo, pois que tal palavra
(racismo) encerra uma carga semântica muito grave para a imputarmos ao
Codificador do Espiritismo que, para mim, fora um grande humanista. Ora,
racismo expressa desigualdade, desprezo, hostilidade, violência, coisas
incompatíveis com o que se conhece da vida comportamental e dos escritos do
célebre Codificador do Cristianismo Redivivo, ou, do que se conhece como
Espiritismo.
Aliás, Espiritismo
que, como o nome mesmo sugere, trata-se da Doutrina dos Espíritos Superiores,
que implanta:
“... as bases do novo
edifício que se eleva e deve um dia reunir todos os homens num mesmo sentimento
de amor e de caridade”. (Vide: “OLE” – A.K. – Ide).
Logo, a supracitada
definição de Kardec com relação ao negro, fora por certo indelicada e deveras
infeliz, sobretudo quando a mesma for descontextualizada, ou seja, isolada e
distinguível das seis (6) páginas que compõem a “Teoria da Beleza”, parágrafo
especial do citado livro: “Obras Póstumas”, publicado pela Feb editora.
Por outro lado, é
preciso se entenda, como já citado em meu texto: “Idiossincrasias de Kardec”,
que o Codificador era detentor, como todos nós o somos, de qualidades e defeitos,
sendo um homem, portanto, do seu tempo, de sua cultura, de seus saberes do
Século 19, devendo acrescentar-se ainda que, à época, todos acreditavam nos
degraus que definiam a superioridade e inferioridade das raças, principalmente
dos negros que, por sinal, foram violentados em sua cultura como também
escravizados pelos brancos; sendo que, por aí, questiona-se: eram superiores os
brancos que violentaram e escravizaram os negros ou eram superiores estes que
se submeteram àqueles?
E, mais ainda, à
época de Kardec, estava em voga a Frenologia, de Franz Josef Gall, uma ciência
hoje inteiramente descartada por suas inverdades e contradições; por outro
lado, ainda, Kardec, na “RE”, de 1860 e 1862, também tece outras considerações
sobre tal Ciência à luz do Espiritismo.
Mas vejam que os
negros, na referida página de Kardec, também se consideram mais belos que os
brancos, e, no início de sua “Teoria” o Codificador se refere a tal:
“Será a beleza coisa
convencional e relativa a cada tipo? O que, para certos povos, constitui a
beleza, não será para outros, horrenda fealdade? Os negros se consideram mais
belos que os brancos e vice-versa. Nesse conflito de gostos, haverá uma beleza
absoluta? Em que consiste ela? Somos realmente mais belos do que os hotentotes
e os cafres? Por quê?”. (Opus Cit.).
E, a partir de tal
ponto, de muitos questionamentos e observações
variadas, Kardec inicia sua “Teoria”, mas veja bem: teoria, conjectura, estudo
que, tanto pode ser consolidado por mim como por você, e, o simples fato de os
negros se acharem mais belos que os brancos, e vice-versa, como acima citado,
isto, por si só, já coloca a questão ao nível da relatividade, mesmo porque,
todos já ouviram ou já conhecem o dito popular: quem ama o feio, bonito lhe
parece.
Assim, pois, torna-se
discussão inútil e estéril definir-se beleza humana, beleza dos corpos, pois
todos são corpos da Criação Divina, e, nossos gostos, conquanto tenhamos o
direito de expressá-los, eles são indiferentes para Deus no sentido de que Ele
nos ama com infinito Amor, e que, portanto, não criara dois tipos de Espíritos,
sendo eles, pois, tipos iguais em sua conformação interior, espiritual e moral.
Por conseguinte, os
tipos biológicos são todos eles da raça humana, e não da raça branca, negra ou
amarela que os distingue pela cor e não pelos seus valores morais; distinção
que Deus, como sinônimo de Pai, e dotado de Infinito Amor pelos seus filhos,
não faria e não faz distinção de seus filhos pelos corpos que Ele mesmo criara
não para a nossa discriminação e sim para a nossa compreensão das infinitas
possibilidades de Deus-Pai-Criador.
E, por outro lado,
Kardec já havia dito em tal “Teoria” que:
“... o ideal da forma
há de ser a que revestem os Espíritos em estado de pureza, e com que sonham os
poetas e os verdadeiros artistas, porque penetram, pelos pensamentos, nos
Mundos superiores”. (Opus Cit.).
Mesmo porque em tal
“Teoria” mesma está codificada uma Instrução Altíssima que, por sua vez, coloca
por terra os argumentos preconceituosos, racistas, sejam eles de quem quer que
seja, e que, ainda, muito empalidece a já tão infeliz e citada especulação de
Kardec, fundamentada, aliás, em estudos de um livro de Carlos Richard; mas
vamos à Instrução Altíssima:
“A beleza, do ponto de
vista puramente humano, é uma questão muito discutível e muito discutida. Para
a apreciarmos bem, precisamos estudá-la como amador desinteressado. Aquele que
estiver sob o encantamento não pode ter voz no capítulo. Também entra em linha
de conta o gosto de cada um, nas apreciações que se fazem.”
“Belo, realmente belo
só é o que o é sempre e para todos; e essa beleza eterna, infinita é a
manifestação divina em seus aspectos incessantemente variados; é Deus em suas
obras e nas suas leis! Eis aí a única beleza absoluta. É a harmonia das harmonias
e tem direito ao título de absoluta, porque nada de mais belo se pode
conceber”.
“Quanto ao que se
convencionou chamar belo e que é, verdadeiramente digno desse título, não deve
ser considerado senão como coisa essencialmente relativa, porquanto sempre se
pode conceber alguma coisa mais bela, mais perfeita. Somente uma beleza existe
e uma única perfeição: Deus. Fora dele, tudo o que adornamos com esses
atributos não passa de pálido reflexo do belo único, de um aspecto harmonioso
das mil e uma harmonias da Criação”.
“Há tantas harmonias,
quantos objetos criados, quantas belezas típicas, por conseguinte, determinando
o ponto culminante da perfeição que qualquer das subdivisões do elemento
animado pode alcançar. – A pedra é bela e bela de modos diversos – Cada espécie
mineral tem suas harmonias e o elemento que reúne todas as harmonias da espécie
possui a maior soma de beleza que a espécie possa alcançar”.
“A flor tem suas
harmonia; também ela pode possuí-las todas ou insuladamente e ser
diferentemente bela, mas somente será bela quando as harmonias que concorrem
para a sua criação se acharem harmonicamente fusionadas. – Dois tipos de beleza
podem produzir, por fusão, um ser híbrido, informe, de aspecto repulsivo. – Há
então cacofonia! Todas as vibrações, insuladamente, eram harmônicas, mas a
diferença de tonalidade entre elas produziu um desacordo, ao encontrarem-se as
ondas vibrantes; daí o monstro!”.
“Descendo a escala
criada, cada tipo animal dá lugar às mesmas observações e a ferocidade, a
manha, até a inveja poderá dar origem a belezas especiais, se estiver sem
mistura o princípio que determina a forma. A harmonia, mesmo no mal, produz o
belo. Há o belo satânico e o belo angélico; a beleza enérgica e a beleza
resignada”.
“Cada sentimento, cada
feixe de sentimentos, contanto que seja harmônico, produz um particular tipo de
beleza, cujos aspectos humano são todos, não degenerescências, mas esboços. É,
pois, certo dizermos, não que somos mais belos, porém que nos aproximamos cada
vez mais da beleza real, à medida que nos elevamos para a perfeição”.
“Todos os tipos se
unem harmonicamente no perfeito. Daí o ser este o belo absoluto. – Nós que
progredimos possuímos apenas uma beleza relativa, debilitada e combatida pelos
elementos desarmônicos da nossa natureza”.
“Lavater (Espírito)”.
Assim, pois, tudo
quanto há de preconceito, de fealdade e de incorreções na referida “Teoria” de
Allan Kardec e que fora inspirada, aliás, nos desacertos de Carlos Richard e
pelo citado Franz Josef Gall, o fato é que ela muito se fragiliza com a
altíssima instrução do Espírito Lavater, com ilações espirituais e morais que
transcendem todas as conjecturas e preconceitos humanos colocando as coisas em
seu devido lugar.
Logo, o tiro saiu
pela culatra...
E é nisto que dá em meter
o bedelho em temas tão sensíveis, tão delicados, que nos podem denegrir antes
que nos realçar.
Logo, Kardec, mais
uma vez, era mesmo um Ser humano com suas idiossincrasias, virtudes e defeitos
tão evidentes e tão fáceis de serem constatados. Sua “teoria” com ‘t’ minúsculo
se fragiliza e muito se empalidece diante da “Teoria” com maiúsculo contido na
página do iluminado Lavater.
Finalizando: muito se
engana e se ilude os mais ortodoxos que querem um Kardec perfeito, cláusula
pétrea e não suscetível de correções em seus escritos “inabaláveis” e
“indiscutíveis”; o que não condiz com a realidade.
É lamentável que, de
tal forma, alguns possam pensar!
No mais, um grande abraço do amigo de sempre, e, para sempre:
Fernando Rosemberg Patrocinio:
Fundador de Casa Espírita Cristã, Coordenador de Estudos
Doutrinários, Articulista, Palestrante e Escritor de dezenas de e.Books gratuitos
em seu blog abaixo transcrito.
Relação
dos e.Books de:
Fernando
Rosemberg Patrocínio
01-Ciência Espírita: Tese Informal;
02-Espiritismo Em Evolução;
03-Espiritismo e Matemática;
04-Mecanismo Ontogenético;
05-Espaço-Tempo: Física Transcendental;
06-Corrente Mental;
07-Pietro Ubaldi e Chico Xavier;
08-Filosofia da Verdade;
09-Axiologia do Evangelho;
10-Espiritismo e Evolucionismo;
11-Fatos e Objeções;
12-O Médium de Deus;
13-A Grande Síntese e Mecanismo;
14-Evangelho da Ciência;
15-Codificação Espírita: Reformulação;
16-Kardecismo e Espiritismo;
17-Geometria e Álgebra Palingenésicas (web
artigos);
18-Maiêutica do Século XXI;
19-Espiritismo: Fundamentações;
20-Ciência de Tudo: Big-Bang;
21-Evolução: Jornadas do Espírito;
22-O Homem Integral (Reflexões);
23-Espiritismo e Filosofia;
24-André Luiz e Sua-Voz;
25-O Livro dos Espíritos: Queda Espiritual;
26-Evidências do Espírito;
27-Construção Bio-Transmutável;
28-Mediunidade Genial (web artigos);
29-Conhecimento e Espiritismo;
30-O Paradigma Absoluto;
31-O Fenômeno Existencial;
32-Chico-Kardec: Franca Teorização;
33-O Maior dos Brasileiros;
34-Espiritismo: Síntese Filosófica;
35-O Livro dos Espíritos: Simples e Complexo;
36-O Livro dos Espíritos: Níveis Filosóficos;
37-Espiritismo: Queda e Salvação;
38-Geometria Cósmica do Espiritismo;
39-Matemática da Reencarnação;
40-Kardec,
Roustaing e Pietro Ubaldi;
41-Espiritismo
e Livre Pensamento;
42-Síntese Embriológica
do Homem;
43-Jean-Baptiste
Roustaing: Réplica Primeira;
44-Jean-Baptiste
Roustaing: Réplica Segunda;
45-Jean-Baptiste Roustaing:
Réplica Terceira;
46-Consenso Universal:
Tríplice Aspecto;
47-Método Pedagógico dos
Evangelhos;
48-Cristo: de Roustaing a
Pietro Ubaldi;
49-Estratégias da
Revelação Espírita;
50-Trilogia Codificada e
Rustenismo;
51-Cosmogênese do Terceiro Milênio;
52-Tertúlias Multidimensionais;
51-Cosmogênese do Terceiro Milênio;
52-Tertúlias Multidimensionais;
53-Cristianismo: Teologia Cíclica;
54-Análise de Temas Codificados;
55-Deus: Espírito e Matéria;
56-Razões e Funções da Dor;
57-Emmanuel: Notável Revelador;
58-A Queda dos Anjos;
59-Homem: Vença-te a Ti Mesmo;
60-Evangelho: Evolução Salvífica;
60-Evangelho: Evolução Salvífica;
61-O Espírito da Verdade;
62-Balizas do Terceiro Milênio.
63-Sentimento: Molde Vibrátil de Ideias;
64-Ciência do Século XX;
65-A Revolução Ética.
...............................................
Blog: Filosofia do
Infinito
http://fernandorosembergpatrocinio.blogspot.com.br
.
Qualquer argumento dito por um homem, deve ser contextualizado. Porém, nas obras básicas contém ensinamentos transmitidos por médiuns de espíritos superiores. Então, como entender que a espiritualidade superior, não foi capaz de transmitir neste em outros trechos, que se referi aos selvagens, a igualdade das raças e culturas.
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